sexta-feira, 15 de maio de 2009
Fotógrafo brasileiro Gui Mohallem expõe na SP Arte
Maio/2009 | Bravo! Indica
Ensaio para a Loucura
Fotógrafo brasileiro Gui Mohallem expõe na SP Arte seu trabalho de pesquisa da loucura de si e do outro, feita com pinhole digital
Laila Abou Mahmoud
"Me perturba, me desafia conhecer o universo do outro". Foi topando esse desafio que o fotógrafo brasileiro Gui Mohallem iniciou seu processo de pesquisa e fotografia de Ensaio para a Loucura, conjunto exposto até esse domingo, 17/5, das 12h às 20h na SP-Arte, no stand da Galeria de Babel (stand 50), no Pavilhão da Bienal, em São Paulo.
O processo é curioso e corajoso. Consiste no fotógrafo encontrar o entrevistado em algum local escolhido por ele de acordo com sua memória afetiva e, juntos, se submeterem a sessões de conversas e confissões que podem durar horas. Durante essa troca, ambos descobrem medos, traumas, pontos em comum e o fotógrafo, particularmente, avança na sua investigação e descoberta de recônditos mentais e geográficos que sequer imaginava - parte das fotos foram tiradas fora do país.
São desses pontos em comum que Gui tira o material para fotografá-los, já num segundo ou terceiro encontro (os dois juntos é quem escolhem o momento para fazê-la). A foto é feita com pinhole digital, técnica parecida àquele furinho na latinha que o ex-professor de fotografia para jovens utilizava para lhes explicar a arte da luz e de imprimi-la num papel fotográfico. Só que, dessa vez, a técnica é feita no corpo de sua câmera digital.
O resultado são imagens que imprimem no papel a máxima de que tudo se transforma e a efemeridade do tempo de uma maneira provocadora. Para isso, remodelam rostos e silhuetas (confira todas as fotos no site do artista). Comparadas muitas vezes às distorções das figuras do anglo-irlandês Francis Bacon, às quais podem remeter num olhar superficial, os retratos desconstruídos não existem sozinhos. Eles compõem um conjunto de materiais que privilegia a interação com quem as aprecia, dialogando com as narrativas dos fotografados.
Quem for visitar as fotos expostas no Pavilhão da Bienal, poderá não só ler os trechos mais significativos dos depoimentos que foram matéria-prima para a materialização pela câmera - sem lente - do fotógrafo, como imprimi-los em seu próprio corpo, numa comunhão semelhante à que fotógrafo e fotografado experimentam durante a preparação da obra (como mostra a foto acima).
As primeiras fotografias foram feitas ainda quando Mohallem estava no exterior e foram expostas pela primeira vez numa individual em Nova Iorque em outubro do ano passado.
O projeto é aberto e quem quiser topar a empreitada de desbravar e revelar imagens improváveis de si pode contatar o fotógrafo por meio de seu site e se inscrever. Encarar a loucura, de si e do outro, mais que terápico, aqui se propõe a ser arte.
Publicado em 05/09
Fonte: Bravo Online
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