quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sofisticada a Feira de Arte. Do blog Davis Lisboa Artblog

Sofisticada a Feira de Arte - a SP Arte 2009 (5 edição) na Bienal , no Parque do Ibirapuera. Qualquer visitante de Nova York, Londres, Tokyo, Barcelona, Milão ficaria bem impressionado


Esqueça aquela idéia de feira de arte com cavaletes de madeira e pinturas de paisagens e naturezas mortas de artistas acadêmicos meio velhuscos tentando seduzir os visitantes. A feira que termina esta semana no Ibirapuera é uma mostra arrojada , do que há de ponta no comércio de arte no Brasil, com as galerias mais importantes tentando brigar por uma fatia da renda dos endinheirados. Ivan Serpa, Lygia Clark, Beatriz Milhazes, Antônio Dias, Iberê Camargo, Thomaz Farkas, Maria Leontina, Milton da Costa, Rodrigo de Castro, Paulo Pasta, Daniel Costa, Flávio de Carvalho, Vik Muniz são apenas alguns dos nomes de peso dos artistas de galerias como Casa Triângulo, Dan Galeria, Arte 57, Almacen (RJ), a nova Choque Cultural da filha do Aldemir Martins, Mariana, a célebre Jean Boghici (RJ), DConcept (SP), Anita Schwartz, Amparo 60 (Pernambuco), Fortes Villaça, Instituto Moreira Salles, etc. ... Além dos grandes nomes já consagrados há décadas nas artes visuais brasileiras, como Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Portinari, Cícero Dias, Tomie Ohtake, Antônio Henrique Amaral, Cláudio Tozzi, etc.. etc....

Filas enormes se formaram a tarde toda nos quatro dias da mostra, um público disposto a pagar 25 reais para ver o que as galerias acreditam que o público quer comprar. O quadro mais valioso que eu vi sendo negociado foi uma tela de porte médio da Tarsila , na galeria Almeida & Dale, com o preço de R$ 2 milhões. Não sei se o negócio acabou saindo, mas até o ponto que eu presenciei, o interessado queria saber se havia “negócio” nesse valor, ou seja, de quanto seria o desconto. Ao que o dono da galeria, obviamente interessadíssimo respondeu “Evidente que sim”. Uma tela medindo 1 metro por 1 metro da Tomie, uma imagem belíssima, que deu origem, inclusive, a uma tiragem de serigrafia no início dos anos 80 estava cotada, por R$ 250 mil. Os Volpis pequenos medindo algo com 25x40 estavam cotados a R$ 90 mil ,trabalhos que era de se imaginar mais caros. Uma tela das melhores do Antônio Dias, dos anos 70, R$ 300 mil . Uma tela grande, um geométrico vermelho, na linha do Eduardo Sued, do garoto já badalado, Rodrigo de Castro, R$ 28.400,00. Uma foto do Thomaz Farkas, reproduzindo o centro de São Paulo, grande, emoldurada, R$ 10.200,00. Chamou atenção um stand com boas amostras da obra do grande baiana Rubem Valentim, morto em 1991 e que fez dos símbolos das religiões afro-brasileiras a grande inspiração para sua obra. Uma tela medindo 30 por 40 do Valentim estava saindo por 8 mil reais, as maiores por R$ 45 mil. Umas obras belíssimas, feitas em madeira pintada de branco, na faixa de 70 mil estavam as duas vendidas. O dinheiro volta para a fundação que leva o nome de Rubem Valentim , na Bahia, ele que não teve filhos e deixou como legado a Fundação.

O que parece é que o mercado de arte brasileiro cada vez tenta chegar mais perto das grandes mostras internacionais, das feiras já badaladas nas capitais européias. Marchands elegantes , que dão pouca prosa para mortais leigos, senhoras finíssimas falando em 100 mil dólares como se fossem 300 reais, laptops macintosh absolutamente clean, colecionadores que sonham se tornar um Gilberto Chateaubriand, compradores manjados já no mercado de arte, preenchedores compulsivos de folhas de cheque, todo esse universo fervilhando dentro do prédio projetado por Oscar Niemeyer, onde em 1951 aconteceu a primeira bienal brasileira.

O mais curioso desse cenário todo é que a única palavra que não se ouvia dentro da Feira é crise. “Crise, que crise, mercado de arte vende o ano inteiro”, dizia um dos expositores. E a menos que não seja verdade, as conhecidas bolinhas vermelhas, indicando “venda” eram bastante comuns em inúmeras obras.

Quando eu estava saindo, um colecionador conhecido e que consta do expediente de instituições poderosas em Sampa , que agora só freqüenta a Fortes Villaça e a Nara Roesler, depois de eu quase cair em cima dele, resolveu me cumprimentar. Eu o fiz lembrar que nos anos 80 ele comprou umas Maria Bonomi conosco e também um Lívio Abramo. Foi engraçado. Ele sempre finge que não me conhece. Fiquei modesto demais para os padrões atuais dele

Esqueci de mencionar entre as galerias participantes a nossa amiga Mônica Filgueiras, figura básica na história do mercado de arte em São Paulo, nos últimos 40 anos, conhece tudo, conhece todos e é conhecida por todos. Eu já tinha mandado o texto ontem á noite, quando nesta manhã , abro a Folha de S. Paulo (tornou-se ou jornal mais importante do país, acabou a primazia da família Mesquita, a família Mesquita foi despejada do topo de influência da mídia impressa brasileira já faz alguns anos) e vejo uma chamada de primeira página sobre a mostra no Ibirapuera. Tem a chamada na primeira página e a matéria na revista da Folha é curiosa. Fica naquela coisa de ser absolutamente fiel à pauta , então se a pauta é para falar apenas de colecionadores jovens, vamos falar só de colecionadores jovens. Quem termina de ler a matéria pode achar que a condição para ser colecionador hoje em Sampa é ter menos de 40 anos. A mídia ficou insistindo muito nessa tecla de que a feira era para iniciantes, mas , convenhamos iniciante não vai ao Ibirapuera desembolsar 2 milhões de reais por uma "Fazenda" da Tarsila. Principiante não vai comprar uma tela do argentino Leon Ferrari por 200 mil dólares ou uma pintura do Antônio Dias por 300 mil reais. Ou ainda um trabalho do Vik Muniz, como a própria revista Informa, por 140 mil reais , vendida pela Fortes Villaça.

Outro aspecto engraçado do texto é o deslumbramento, são todos jovens descolados, ricos, morando em apartamentos amplos e tem até um advogado que todo dia "trava um diálogo " com as obras de arte. A matéria tem o mérito de chamar atenção para alguns valores novos como Alexandre Orion, Bárbara Wagner, Chiara Banfi, Marcelo Moschetta. Mas deixa de lado alguns nomes de peso entre os novos como Sandra Cinto, Albano Afonso, Rodrigo de Castro, o gaúcho Daniel Acosta (tem um belíssimo trabalho desse gaúcho, um elefante todo trabalhado em pedaços de fórmica) etc. Enfim, o fato é que a Feira deu o que falar e tem várias entrevistados repetindo que a crise está passando longe do mercado de arte. Ano que vem, o público deverá ser ainda maior.

Toda a renda arrecadada com a venda dos ingressos na bilheteria da SP Arte 2009 será inteiramente destinada a três instituições voltadas para as artes plásticas, parte em São Paulo e parte no Rio de Janeiro. Quem está bancando é o empresário Carlos Jereissati, dono do Shopping Iguatemi. Acrescente-se que o mesmo valor arrecadado com a venda dos ingressos será utilizado para a compra e posterior doação de obras para instituições como a Pinacoteca do Estado, o MAM , etc. Várias outras instituições, como o Banco Espírito Santos , por exemplo, estão fazendo doações para Pinacoteca do Estado. Do Shopping Iguatemi, a Pinacoteca já tem como doações asseguradas uma escultura de Marcius Galan, uma série de fotografias de Marilá Dardot e um assemblage de João Modé.


Luiz (Veludo) Amando de Barros
 
Fonte: blog Davis Lisboa Artblog

Nenhum comentário:

Postar um comentário