sábado, 6 de junho de 2009
Caça a troféus na selva metropolitana
O Brasil na marcha ofensiva. Pela primeira vez, a feira SP Arte também atraiu profissionais do além-mar
Jay Jopling, "Mr. Brit Art"
Se um profissional do mercado de arte, como Jay Jopling, abandona sua exposição de arte em Hong Kong, que ocorre simultaneamente à festa paulistana, para uma visita relâmpago à SP Arte em São Paulo, isso tem um efeito significativo. É sabido que o homem, com seus óculos de armação escura e ternos Savile-Row perfeitamente talhados, não possui a fama de desperdiçar seu tempo com eventos insignificantes. Mas, especialmente em Londres, espalhou-se a notícia de que a arte brasileira poderia se tornar o próximo “grande lance”. Nesse caso, o Tate Modern representa um papel definitivo, a começar pelo restaurante do museu:
Beatriz Milhazes, "Guanabara"
“Guanabara”, o trabalho vistoso de Beatriz Milhazes pintado na parede do restaurante, assemelha-se a um retrato da Bossa Nova e transmite um clima tropical nos arredores do Tâmisa. Além disso, o Tate dispõe da coleção mais importante de arte brasileira fora do país sul-americano e registra recordes de visitantes com suas exibições especiais, como, recentemente, a dos trabalhos de Cildo Meireles:
Cildon Meireles, "The Southern Cross" (Detalhe), 1969 - 70, Foto: Wilton Montenegro
Tanya Barson, especialista da América Latina do Tate, também viajou para a metrópole de 11 milhões de habitantes a fim de encontrar colegas, visitar ateliês, e, é claro, procurar peças valiosas para o museu. Barson comenta que, apesar do seu significativo central para a história do modernismo internacional, a arte brasileira teria sido subestimada por tempo demais fora do maior país sul-americano. Mas, pelo jeito, tal aspecto não mais vigora.
Já em 2008, foi exposta uma exibição especial no Moderna Museet de Estocolmo com o título Time and Place: Rio de Janeiro.
E, de fevereiro a maio deste ano, o Kunsthaus Zürich também mostrou em sua exibição Hot Spots que, nos anos 50 e 60, o Rio de Janeiro pertenceu aos epicentros da vanguarda, ao lado de Los Angeles, Milão e Turim. Por enquanto, somente os comerciantes, obviamente visionando o futuro, já se abasteceram. Os preços de peças de museus estão subindo de forma nítida. Ano passado, os chamados “Bichos” de Lygia Clark, esculturas construtivistas desdobráveis de metal, ainda eram adquiridos por um valor que variava entre U$ 400.000,00 e 500. 000,00. Porém, este ano, a Galeria de Arte Ipanema pede um milhão de dólares por uma obra de dimensões maiores.
É claro que uma feira como a SP Arte está beneficiando a nova apreciação pela arte brasileira. Com exceção de alguns expositores da Argentina, do Uruguai, da Espanha, de Portugal e da França, os endereços apresentados na SP Arte são, em sua grande maioria, brasileiros. Com exatamente 80 galerias e um aumento do número de visitantes de 12.000 a 15.000 pessoas em relação ao ano anterior, a feira continua a trilhar seu caminho de sucesso em seu quinto ano de existência, embora as dimensões do evento sejam relativamente pequenas em comparação mundial. Nem mesmo a responsável pela feira contou com tamanho êxito. “Passei os últimos nove meses diminuindo as expectativas”, confessa Fernanda Feitosa, a jovem fundadora e diretora da feira diante da WELT. Mas, na noite da abertura, até ela ficou surpreendida. O público simplesmente ignorou o horário oficial da abertura e lá permaneceu por mais de uma hora. E galerias importantes, como Nara Roesler, Luisa Strina ou Vermelho, cujas ofertas se especializaram em obras de artistas brasileiros jovens e contemporâneos, tiveram seus acervos esgotados na mesma noite.
Na oferta da Vermelho, entre outras, encontraram-se as colagens politicamente carregadas do brasileiro Odires Mlászho por R$ 4.400,00. O artista combina retratos fotográficos em branco e preto de esculturas de filósofos gregos com os rostos de social-democratas alemães do pós-guerra. Além disso, no stand viu-se um aparelho interativo de massagem ocular da brasileira em voga Ana Maria Tavares por U$ 18.000,00 (segunda edição). Tavares acabou de se mudar para seu estúdio recentemente construído no complexo Artist-in-Residence da galeria vanguarda Vermelho. A maior atração do stand de Luise Strina, la grande dame da cena galerista brasileira, cujo sentido de qualidade é garantido, foi uma bicicleta de entrega, embrulhada em elástico reciclado, do brasileiro Jarbas Lopes por U$ 10.000,00. Lopes também usou essa bicicleta em projetos sociais.
A Galeria de Babel, especializada em fotografia, ofereceu fotos paparazzi de Vânia Toledo da boemia brasileira dos anos 70 e 80, um tipo de Nan Goldin tropical (de R$ 1.000,00 a 5.000,00). Além disso, Martin Parr lá apresentou sua novidade atual “Playas”, um álbum de pequeno formato com flashes de praias sul-americanas.
Ao lado de Luise Strina, o galerista alemão Thomas Cohn é um dos pioneiros no Brasil no que se refere ao trabalho das galerias com foco no mercado internacional. E é um dos poucos que apresentou uma nova descoberta não-brasileira: a jovem pintora de Berlim, Julia Kazakova. Suas pinturas de grande formato com graduações de cinza mostram cenas extremamente condensadas do mundo de trabalho socialista. Cohn acentua a situação especial do Brasil: “Embora os efeitos da crise também tenham chegado até aqui, parece que a situação vem melhorando. Exporta-se muito e os bancos não estão ameaçados de jeito nenhum.”
Também visto: Patricia Phelps de Cisneros de Caracas, Venezuela, uma das colecionadoras mais importantes da arte latino-americana. Para a diretora da feira, Fernanda Feitosa, isso é considerado um bom sinal: “Nossa feira tem somente cinco anos. Mas, aos poucos, parece que conseguimos alcançar as pessoas importantes.”
Publicado em 6/6/09
Fonte: Philgeland.wordpress.com
Original: Die Welt
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