quarta-feira, 10 de junho de 2009

Mercado maduro: 5ª edição da SP-Arte legitima um mercado potente e em crescimento no Brasil

Leonor Amarante

Há tempos que a Bienal de São Paulo não consegue, na noite de sua inauguração, reunir nomes pesos pesados do circuito. A SP-Arte/Feira Internacional de Arte de São Paulo, ao contrário, em clima festivo, contou com a presença de vários deles, como Antonio Dias, Tunga, Ana Tavares, e legitimou a importância dos artistas no mercado. Afinal, arte é, acima de tudo, a interação dos indivíduos com a arte. Mesmo sem entrar no mérito quanto ao papel da feira no circuito cultural, há de se refletir até que ponto o evento pode interferir no caráter geral da arte.

Alguns artistas ainda se sentem constrangidos em participar. Concordam em vender em galerias, mas quando se trata de feiras se sentem mercenários. Para eles, Fernanda Feitosa, idealizadora da SP-Arte, manda um recado: "Profissional tem que saber vender". Com posição firme, defende que a SP-Arte é um instrumento para escoar a produção artística. "Trata-se de uma feira de negócios que atrai em média 15 mil pessoas, sendo que dez por cento são compradoras em potencial. Não se pode esquecer que para frequentar é necessário gostar de Bienal, de museus, de galerias. Não vejo por que se constranger."

Publicado em 10/06/2009

Fonte: revista Brasileiros

sábado, 6 de junho de 2009

Caça a troféus na selva metropolitana



O Brasil na marcha ofensiva. Pela primeira vez, a feira SP Arte também atraiu profissionais do além-mar


Jay Jopling, "Mr. Brit Art"

Se um profissional do mercado de arte, como Jay Jopling, abandona sua exposição de arte em Hong Kong, que ocorre simultaneamente à festa paulistana, para uma visita relâmpago à SP Arte em São Paulo, isso tem um efeito significativo. É sabido que o homem, com seus óculos de armação escura e ternos Savile-Row perfeitamente talhados, não possui a fama de desperdiçar seu tempo com eventos insignificantes. Mas, especialmente em Londres, espalhou-se a notícia de que a arte brasileira poderia se tornar o próximo “grande lance”. Nesse caso, o Tate Modern representa um papel definitivo, a começar pelo restaurante do museu:





Beatriz Milhazes, "Guanabara"

“Guanabara”, o trabalho vistoso de Beatriz Milhazes pintado na parede do restaurante, assemelha-se a um retrato da Bossa Nova e transmite um clima tropical nos arredores do Tâmisa. Além disso, o Tate dispõe da coleção mais importante de arte brasileira fora do país sul-americano e registra recordes de visitantes com suas exibições especiais, como, recentemente, a dos trabalhos de Cildo Meireles:




Cildon Meireles, "The Southern Cross" (Detalhe), 1969 - 70, Foto: Wilton Montenegro

Tanya Barson, especialista da América Latina do Tate, também viajou para a metrópole de 11 milhões de habitantes a fim de encontrar colegas, visitar ateliês, e, é claro, procurar peças valiosas para o museu. Barson comenta que, apesar do seu significativo central para a história do modernismo internacional, a arte brasileira teria sido subestimada por tempo demais fora do maior país sul-americano. Mas, pelo jeito, tal aspecto não mais vigora.

Já em 2008, foi exposta uma exibição especial no Moderna Museet de Estocolmo com o título Time and Place: Rio de Janeiro.

E, de fevereiro a maio deste ano, o Kunsthaus Zürich também mostrou em sua exibição Hot Spots que, nos anos 50 e 60, o Rio de Janeiro pertenceu aos epicentros da vanguarda, ao lado de Los Angeles, Milão e Turim. Por enquanto, somente os comerciantes, obviamente visionando o futuro, já se abasteceram. Os preços de peças de museus estão subindo de forma nítida. Ano passado, os chamados “Bichos” de Lygia Clark, esculturas construtivistas desdobráveis de metal, ainda eram adquiridos por um valor que variava entre U$ 400.000,00 e 500. 000,00. Porém, este ano, a Galeria de Arte Ipanema pede um milhão de dólares por uma obra de dimensões maiores.

É claro que uma feira como a SP Arte está beneficiando a nova apreciação pela arte brasileira. Com exceção de alguns expositores da Argentina, do Uruguai, da Espanha, de Portugal e da França, os endereços apresentados na SP Arte são, em sua grande maioria, brasileiros. Com exatamente 80 galerias e um aumento do número de visitantes de 12.000 a 15.000 pessoas em relação ao ano anterior, a feira continua a trilhar seu caminho de sucesso em seu quinto ano de existência, embora as dimensões do evento sejam relativamente pequenas em comparação mundial. Nem mesmo a responsável pela feira contou com tamanho êxito. “Passei os últimos nove meses diminuindo as expectativas”, confessa Fernanda Feitosa, a jovem fundadora e diretora da feira diante da WELT. Mas, na noite da abertura, até ela ficou surpreendida. O público simplesmente ignorou o horário oficial da abertura e lá permaneceu por mais de uma hora. E galerias importantes, como Nara Roesler, Luisa Strina ou Vermelho, cujas ofertas se especializaram em obras de artistas brasileiros jovens e contemporâneos, tiveram seus acervos esgotados na mesma noite.

Na oferta da Vermelho, entre outras, encontraram-se as colagens politicamente carregadas do brasileiro Odires Mlászho por R$ 4.400,00. O artista combina retratos fotográficos em branco e preto de esculturas de filósofos gregos com os rostos de social-democratas alemães do pós-guerra. Além disso, no stand viu-se um aparelho interativo de massagem ocular da brasileira em voga Ana Maria Tavares por U$ 18.000,00 (segunda edição). Tavares acabou de se mudar para seu estúdio recentemente construído no complexo Artist-in-Residence da galeria vanguarda Vermelho. A maior atração do stand de Luise Strina, la grande dame da cena galerista brasileira, cujo sentido de qualidade é garantido, foi uma bicicleta de entrega, embrulhada em elástico reciclado, do brasileiro Jarbas Lopes por U$ 10.000,00. Lopes também usou essa bicicleta em projetos sociais.

A Galeria de Babel, especializada em fotografia, ofereceu fotos paparazzi de Vânia Toledo da boemia brasileira dos anos 70 e 80, um tipo de Nan Goldin tropical (de R$ 1.000,00 a 5.000,00). Além disso, Martin Parr lá apresentou sua novidade atual “Playas”, um álbum de pequeno formato com flashes de praias sul-americanas.

Ao lado de Luise Strina, o galerista alemão Thomas Cohn é um dos pioneiros no Brasil no que se refere ao trabalho das galerias com foco no mercado internacional. E é um dos poucos que apresentou uma nova descoberta não-brasileira: a jovem pintora de Berlim, Julia Kazakova. Suas pinturas de grande formato com graduações de cinza mostram cenas extremamente condensadas do mundo de trabalho socialista. Cohn acentua a situação especial do Brasil: “Embora os efeitos da crise também tenham chegado até aqui, parece que a situação vem melhorando. Exporta-se muito e os bancos não estão ameaçados de jeito nenhum.”

Também visto: Patricia Phelps de Cisneros de Caracas, Venezuela, uma das colecionadoras mais importantes da arte latino-americana. Para a diretora da feira, Fernanda Feitosa, isso é considerado um bom sinal: “Nossa feira tem somente cinco anos. Mas, aos poucos, parece que conseguimos alcançar as pessoas importantes.”

Publicado em 6/6/09

Fonte: Philgeland.wordpress.com
Original: Die Welt

Crianças à sombra em São Paulo

Êxito da exportação brasileira: A quinta feira internacional de arte em São Paulo, a SP-Arte, contou com aproximadamente 15.000 visitantes, 3000 a mais do que no ano anterior.

Nicole Büsing e Heiko Klaas

Não obstante, a feira atrai por causa de seu perfil nítido: 80 galerias - em sua maioria da América do Sul, Espanha, Portugal e França - apresentam a arte moderna e a contemporânea da América Latina. Em nenhum outro lugar, a arte do maior país sul-americano está sendo exibida com tamanha qualidade e abundância. A arte brasileira é apreciada por museus europeus e americanos, os quais pretendem complementar suas coleções, por colecionadores brasileiros abastados e, principalmente, por negociantes de arte prospetivos, que se abastecem para os tempos pós-crise. Assim, Jay Joplin, o galerista célebre de Londres, fez uma visita relâmpago à feira. Patricia Phelps Cisneiros, a colecionadora venezuelana de alto padrão, também foi vista na SP-Arte.

Tanya Barson, a especialista da América Latina do Tate Modern em Londres, concorda que a arte brasileira não precisa se esconder. Ela também fez compras em São Paulo: "Apesar de seu significado central para o desenvolvimento do modernismo internacional, a arte brasileira sempre foi marginalizada pelos museus europeus". Aliás, no Tate Modern, tal significado já havia sido reconhecido antes. Fora do Brasil, o museu dispõe a coleção de arte brasileira mais importante.

Negociantes dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, do Chile e da Argentina se fartaram na galeria Athena, no Rio de Janeiro, com trabalhos de alto padrão do modernismo pós-guerra brasileiro. Em oferta, por exemplo, havia um para-vento de Ivan Serpa, datado de 1952 e pintado com formas construtivistas, pelo valor de US $ 350 000,00. E foram oferecidas monotipias caligráficas delicadas em papel-arroz de Mira Schendel (1919 - 1988) por valores entre 5.400 e 35.500 dólares. Atualmente, os trabalhos de Schendel também podem ser vistos no MoMA em Nova Iorque.

Fernanda Feitosa, a diretora da SP-Arte, atribui o interesse internacional a um acontecimento concreto: em 2008, o leilão de uma pintura de Beatriz Milhazes no Sotheby's, em Nova Iorque, alcançou um valor acima de um milhão de dólares. A quantia superou tudo que já foi pago por uma peça de arte brasileira. Por disso, as colagens de papel da artista foram oferecidas em vários stands. Os preços para um formato grande variavam entre 30.000 e 380.000 dólares. Feitosa também oferece de um prognóstico: "Posso imaginar que, um dia, os preços vão explodir. Até agora, eles são baixos demais para artistas com histórico de obras maduras. Cildo Meireles, por exemplo, deveria ser bem mais caro. Ele tem mais de 60 anos, mas no mercado de arte, seus trabalhos nem chegam perto do reconhecimento merecido".

Publicado em 6/6/09

Fonte: Der Tagespiegel